Escritório da capitã

Paradigma científico

Eu tenho esse desespero, essa ansiedade em ser alguém melhor. Uma pessoa mais madura, mais equilibrada e evoluída. Uma pessoa mais calma, centrada, que respeita o diferente, que amadurece com as opiniões divergentes. Não é difícil notar que estou, ainda, bem longe disso; mas já estive muito mais.

Claro que tive vários incentivos para mudar meu jeito de ver as coisas – e não fiquei nem um pouco mais calma, só mudei o lado da crítica – mas acho que uma das coisas que mais me ajudou foi justamente esse desejo por mudar.

Digo, eu não tenho problemas com mudanças. Mudei muito de escola quando pequena e ficar sempre no mesmo lugar me deixa entediada. O começo da mudança é sempre esquisito, desconfortável, mas é um preço que posso pagar para ter uma visão nova da vida.

E às vezes eu reflito muito sobre isso de se ater ao que você acha certo. Tipo aquelas frases

Se você estiver atrapalhando, é porque está fazendo a coisa certa. Se todos estiverem contra você, é o caminho certo. Mantenha-se ao que você considera correto, por mais que todos digam que você esteja errado.

Eu achava isso muito nobre e lindo. Você se ater às suas convicções mesmo que nadando contra a corrente. E ainda acho que, às vezes, precisa ser assim sim. Se eu sou brigona, é porque realmente acredito no que acredito. (é redundante, sim).

Mas e se, sei lá, eu acreditasse que judeus não são pessoas de verdade? Que negros fossem menos inteligentes? Que mulheres precisam “se dar ao respeito”? Eu ia me ater a essas convicções com unhas e dentes, mesmo que todo mundo me dissesse para ser mais rasoável (aka parar de ser babaca)?

E todo dia eu descubro que o que eu acreditava ontem era meio babaca – isso me fascina bastante. Para crescer um pouco a cada dia, não posso ser tão irredutível. Preciso ouvir, assimilar, mudar meu jeito de pensar. Senão fico no mesmo lugar.

Em determinado ponto, parei de ter convicções, algo que soa muito eterno. Passei a ter uma ideologia buscando o que faz sentido para mim. “Fazer sentido” é algo mais científico do que eterno. Fazer sentido é estar assimilado e é algo que, com estímulo externo, pode mudar.

Isso também me permite ouvir mais. E ser mais enfática. Preciso de argumentos para que algo faça sentido para mim. São os argumentos que formam minha opinião. Comecei a ficar mais atenta para descobrir quando tinha apenas emoções guiando minhas opiniões. Emoções são válidas e importantes, mas tiram o peso do argumento. Não posso esperar que todos concordem que mamão é a fruta mais detestável do planeta sendo que só eu fiz uma dieta onde era obrigada a comer mamão por semanas e tenho uma resposta emocional ao assunto.

O que quero dizer é que a gente precisa tomar um cuidado com isso de se manter firme às próprias convicções. Corro o risco da hipocrisia aqui, humildemente aceitando que esse é um longo processo. Ou pode não ser. É só o que tem feito sentido pra mim.

Um comentário em “Paradigma científico”

  1. Acho que é sua maior qualidade, querer crescer. Tem tanta gente nessa vida que prefere ficar ali, presa nas suas certezas, ignorando que o mundo muda, e que a gente tem q mudar com ele, que é triste. Mas um passo de cada vez, uma pessoa de cada vez. Só não pode deixar a ansiedade atropelar você.

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